Contatos na Floresta
EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR
A aproximação com indígenas isolados e constantemente ameaçados custou as vidas do indigenista pernambucano Bruno Pereira (1980-2022) e do jornalista britânico Dom Philips (1964-2022), brutalmente assassinados no Vale do Javari, Amazonas, no dia 5 de junho.
Contatos com povos originários reclusos têm uma longa história no Brasil, marcada por ações acertadas, mas também por equívocos e violências. Ao longo da década de 1950, o fotógrafo franco-brasileiro Henri Ballot (1921-1997) participou de expedições de aproximação com indígenas arredios sempre a serviço da revista O Cruzeiro, célebre publicação semanal dos Diários Associados. Viajou acompanhado do repórter Jorge Ferreira (1924-2007).
Nestas viagens, fez registros visuais únicos e muito relevantes. A primeira delas foi em 1953, quando Ballot e Ferreira acompanharam o contato feito pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) com os xikrins (O Cruzeiro, 11 de julho de 1953), que habitavam a região entre Marabá e Conceição do Araguaia, no Pará. Temia-se a reação violenta dos indígenas. Não houve violência, e Ferreira ressalvou: “O índio não pode, de um salto, apagar da memória todo o mal que os cristãos lhe fizeram nestes quatro séculos.” Hoje os xikrins, subgrupo dos Caiapós, ocupam áreas demarcadas de Xikrin do Cateté e de Trincheira/Bacajá.
Em outra viagem, Ballot acompanhou o primeiro contato que os irmãos Claudio (1916-1998) e Orlando Villas-Boas (1914-2002) fizeram com os indígenas txucarramãe, na região do Xingu, em 1953. Os registros estão na reportagem Tik – a prisioneira branca dos txucarramãe (O Cruzeiro, 2 de janeiro de 1954). A reportagem dá destaque a uma criança branca que foi capturada e criada pelos indígenas, mas vale pelos registros visuais da vida deste povo perenizados por Ballot. Os txucarramãe são mais conhecidos hoje como caiapós-mecranotis e habitam o Sul do Pará e o Norte de Mato-Grosso.
Ballot ainda acompanhou uma viagem de Jânio Quadros, então governador de São Paulo, à região do Javari, em 1955, e em 1957 faz as primeiras fotos do Kuarup, ritual dos indígenas do Xingu.
Sessenta fotos de Ballot da vida de indígenas foram expostas na mostra Olhares aos Índios da Amazônia organizada por sua filha, Véronique Ballot (1952-) no Museu do Homem em Paris em 2000. O acervo de Ballot está sob a guarda do Instituto Moreira Salles desde 2004, e 18 imagens de indígenas constam de sua página no site Testemunha Ocular.