A enchente de 41
EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR
As cheias que atingem o Rio Grande do Sul desde o dia 27 de abril fizeram com que os gaúchos relembrassem um episódio que deixou marcas profundas na história da região: a enchente de 1941, quando o Guaíba chegou a 4,76 metros e inundou Porto Alegre. Mas, dessa vez, as cheias foram ainda maiores. Alcançaram várias cidades e fizeram com que o rio ultrapassasse a marca dos 5,30 metros, no que é a maior tragédia já registrada no estado.
Em 1941, cerca de 70 mil pessoas ficaram desabrigadas – quase um quarto dos 272 mil moradores da capital. Na ocasião, foram 22 dias de chuvas ininterruptas, que espalharam pânico e desespero. A cidade ficou sem energia elétrica, um terço dos estabelecimentos comerciais e das indústrias fecharam as portas por 40 dias, as aulas foram suspensas e as escolas se transformaram em abrigos improvisados. Os fotógrafos dos Diários Associados registraram a tragédia, como se pode ver nas imagens que ilustram essa matéria.
O drama que atingiu a cidade está retratado no livro “A enchente de 41”, do jornalista e escritor Rafael Guimarães. Por ironia, ele agora também ficou ilhado em seu apartamento em Menino Deus, um dos bairros mais atingidos pelas chuvas, tendo que sair do edifício com água quase pela cintura.
No último balanço da Defesa Civil do estado, divulgado no dia 27 de maio, as enchentes afetaram 469 municípios, forçando quase 56 mil pessoas a irem para abrigos. O número de desalojados passa de 580 mil. Até agora, foram contabilizados 169 mortos e 806 feridos. Há 56 pessoas desaparecidas. Foram resgatadas 77.712 pessoas e 12.521 animais.
Em entrevista à BBC News Brasil, Rafael Guimarães falou sobre semelhanças e diferenças entre os dois desastres. Um dado que agrava a situação atual é que, segundo ele, a água que inundou Porto Alegre em 1941 podia não ser limpa, mas era cristalina. Mesmo assim, depois houve um surto de leptospirose que teria provocado 25 ou 26 mortes.
Dessa vez, é uma água suja, poluída por agrotóxicos e desmoronamento de barreiras, entre outros problemas. No Centro, na Cidade Baixa e no Menino Deus, ainda há o agravante de que a água passa pela tubulação de esgoto, o que torna as pessoas muito mais propensas a contrair doenças.
Como em 1941, a tragédia de agora vai ficar marcada para sempre na história do país.