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Cenas de verão

EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR

“A Zona Norte é o caldeirão de calor do Rio”, disse ao jornal O Globo o professor Andrew Lucena, do Laboratório Integrado de Geografia Física Aplicada (Liga), da UFRRJ. “Na região, não há área aberta, e o ar fica retido. A Zona Oeste pode até ser mais quente de dia; aquece muito, mas esfria mais rápido também. A Zona Norte é quente de dia e de noite. Não há trégua”, completou.

Pesquisas indicam que a Área de Planejamento 3 (subúrbios da Central e da Leopoldina, na Zona Norte) — onde estão os complexos da Maré, da Penha e do Alemão — é a mais quente da cidade. Em fevereiro por exemplo, num dia em que a temperatura da cidade estava em 44 graus, uma medição feita pelo jornal no asfalto na Rua Principal, na Nova Holanda, uma das 16 favelas do Complexo da Maré, apontava 61 graus.

Vários fatores ajudam a explicar a alta temperatura: o fato de que as comunidades estão cercadas pelas linhas Vermelha e Amarela, e pela Avenida Brasil, a falta de áreas verdes, o material das casas, em geral feitas de tijolo cru e com telhados com pouco apropriados, e a proximidade das construções, que ficam coladas e sem ventilação

Mas não é só o Complexo da Maré que sofre com um verão de temperaturas recordes. De modo geral, num mundo cada vez mais quente e desigual, quem vive em áreas de baixa renda sofre mais os efeitos do calor que quem mora em regiões mais abastadas. Ao longo dos anos, os fotógrafos do Imagens do Povo têm registrado cenas do verão carioca, como é o exemplo da foto feita por veri-vg que abre esta reportagem, e que mostra meninas dançando funk no bloco Beber Cair, no Piscinão de Ramos.

— Nas favelas, a cena de uma piscina na laje ou outras formas de enfrentamento do calor é muito frequente. A cultura da coletividade é presente, e também contribui para amenizar o calor. Muitas pessoas passam mais tempo nas ruas, onde a ventilação é melhor, frequentam praças e áreas sombreadas, para interagir e se refrescar — diz Monara Barreto, gestora do Acervo do Imagens do Povo e autora de uma das fotos deste ensaio. — A criatividade e a resiliência dos moradores das favelas mostram que, mesmo diante de desafios urbanos e climáticos, é possível encontrar alternativas engenhosas para tornar a crise climática mais amena.

Tio sereia – As águas de uma baía de encantamento. Foto de Affonso Dalua/Imagens do Povo.
Dia da lavagem da Marquês de Sapucaí. Foto de Vítor Melo/Imagens do Povo.
Festa de Iemanjá, entrega dos presentes na Praia de Copacabana. Rio de Janeiro. Foto de Elisângela Leite/Imagens do Povo.
Celebração de 30 anos do Presente à Iemanjá de Sepetiba. Foto de Elisângela Leite/Imagens do Povo.
Biquíni de fita. Tijolinho, Complexo da Maré, 2022. Foto de Kamila Camillo/Imagens do Povo.
Banho de piscina. Complexo da Maré. Foto de Rosilene Miliotti/Imagens do Povo.
Crianças tomam banho de piscina em laje no Complexo do Alemão. Foto de Monara Barreto/Imagens do Povo.
Crianças tomam banho de balde na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. Foto de Vitória Corrêia/Imagens do Povo.
Elisângela Leite - Banho de mangueira na Rua E, Maré, Rio de Janeiro. 2014
Banho de mangueira na Rua E, Maré, Rio de Janeiro. 2014. Foto de Elisângela Leite.
Crianças se refrescam com picolé. Complexo da Maré. Foto de AF Rodrigues/Imagens do Povo.
Piscinão de Ramos. Foto de veri-vg/Imagens do Povo.
“Corpa” festa “O movimento das lajes”, 2023. Complexo da Maré. Foto de Affonso Dalua/Imagens do Povo.
Vendedor de Milho, Praia do Leme, Foto de visão.dicria/Imagens do Povo.
Pesca artesanal, Figueira, Arraial do Cabo (RJ). Foto de Raphael Paz/Imagens do Povo.
Desfile do bloco Se Benze que Dá. Complexo da Maré. Foto de Kamila Camillo/Imagens do Povo.
Meninas dançam funk no bloco Beber Cair. Piscinão de Ramos. Foto de veri-vg/Imagens do Povo.