Ao longo de sua trajetória, Walter Firmo tem registrado o dia a dia da população negra do Brasil, sejam personagens anônimos, como um casal na Praia de Piatã, em Salvador, sejam figuras célebres, como Pixinguinha, Clementina de Jesus e dona Ivone Lara, que imortalizou com sua voz o “Sorriso negro”, de autoria de Jorge Portela, Adilson Barbado e Jair de Carvalho, samba que tem versos como “Negro é a raiz da liberdade/Negro é uma cor de respeito/Negro é inspiração”.
Em 1967, o carioca Firmo passou seis meses em Nova York trabalhando para a revista Manchete da Editora Bloch. Lá, conheceu o bairro do Harlem, descobriu o jazz, teve contato com o movimento dos direitos civis e viu a obra de fotógrafos como Gordon Parks. Um dia o chefe de redação mostrou-lhe uma carta em que um jornalista brasileiro, colega seu na Manchete, dizia não entender por que a Bloch mantinha como correspondente “um mau profissional, analfabeto e negro”.
Ele falou certa vez sobre o episódio: “Aí caiu a ficha. No Brasil, nunca pensei que eu fosse negro, pra mim era tudo igual. Era muito ingênuo. É uma questão de consciência também: me descobri político e politizei a minha vida”. Na revista Continente, José Afonso Jr. escreveu: “A reação (de Firmo) diante do racismo explícito veio em forma de indignação e de uma adesão direta ao slogan black is beautiful em duas frentes: no corpo, pela adoção do penteado black power; e em sua fotografia, a partir daí direcionada definitivamente à população negra.”
Como explica Firmo, a questão do negro está presente em sua obra “como uma representação de uma sociedade que existe, não é uma sociedade invisível”. Ele acrescenta: “E, posto assim, eu sou um delegado em representá-los na questão de sua cidadania.”
Este ano, foi inaugurada em sua homenagem a exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”, que traz quase 300 fotos feitas por ele em mais de 70 anos de carreira, incluindo os célebres retratos de personalidades negras. Depois de passar pelo Instituto Moreira Salles de São Paulo, ela pode ser vista até o dia 27 de março de 2023 no CCBB do Rio. A curadoria da retrospectiva é de Sergio Burgi e Janaína Damaceno.