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Notícias

O custo humano da guerra

EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR

O fotógrafo carioca Felipe Dana venceu o Pulitzer com três imagens feitas na guerra da Ucrânia. Um dos prêmios mais importantes da imprensa mundial elegeu um conjunto de 15 fotos de sete profissionais da agência Associated Press como as melhores do ano na categoria fotografia de notícias.

Felipe detalha suas fotos da série premiada. Uma delas mostra um cão ao lado sua dona, uma idosa, morta em casa, em Bucha (alto da página).

– Ao chegar a essa casa, vi uma senhora morta na entrada. Lá dentro, encontrei outro corpo, também de uma senhora, na cozinha. No dia seguinte, voltei e, ao conversar com vizinhos, descobri que eram duas irmãs. Claramente eram civis que foram assassinadas dentro de casa. O cachorro foi o único sobrevivente. Chegamos à Bucha após a saída dos russos e encontramos diversas cenas de horror como essa, que nos marcaram bastante – conta Felipe, que tem uma página dedicada a seu trabalho no site Testemunha Ocular, que pode ser vista aqui.

Outra foto traz o corpo de um homem com uniforme militar estendido numa barreira perto de uma aldeia retomada pelos ucranianos na periferia de Kharkiv.

– O corpo estava preso à barreira, aparentemente queimado. Era uma cena chocante. Demoramos a decidir se devíamos publicar ou não. Era importante mostrar o horror, mas não conseguimos encontrar maiores informações sobre a vítima, como a sua nacionalidade. Se era russo, ucraniano, separatista.

A terceira foto de Felipe apresenta um homem fugindo correndo com alguns itens recuperados de uma loja, ao lado de um imóvel pegando foto após ser bombardeado pelos russos.

– Era uma cena que se repetia muito nesse bairro, que ficava próximo ao front. Passei meses nessa cidade de Kharkiv. Após os bombardeios, que eram diários, íamos ver o que tinha acontecido, acompanhando os serviços de emergência. Encontrávamos muita gente morta e ferida. Esse bairro na periferia da cidade foi ficando deserto com o passar do tempo, porque as pessoas foram obrigadas a abandonar a região.

As imagens da AP revelam o horror e o absurdo da guerra. Há cenas de execuções, bombardeios, destruição, ataques a inocentes, funerais, enterros coletivos. Há mortos e feridos. Os sobreviventes exibem em seus rostos perplexidade, medo, desespero.

– São cenas horríveis, assustadoras e comoventes que infelizmente têm se repetido muito desde o início da escalada do ano passado. Elas mostram o devastador custo humano da guerra – diz ele.

Felipe observa que, por mais dramáticas que sejam as fotos, a realidade vivida pelos civis na Ucrânia é bem pior.

Entre as demais fotos ganhadoras está a que mostra uma ucraniana grávida sendo socorrida depois do bombardeio russo a uma maternidade em Mariupol. Nem ela nem o filho sobreviveram. A imagem também foi eleita há pouco a foto do ano da edição de 2023 do World Press Photo.

Felipe, que está na AP desde 2009,  já foi indicado outras quatro vezes ao prêmio pela cobertura da guerra contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

Sobre o trabalho, ele declarou que, em vez de pensar na beleza ou no horror da fotografia, pensa no horror do ser humano e no que as pessoas podem fazer para mudar isso.

– Se alguém tiver o poder de mudar, nem que seja um pouco dessas coisas, eu acho que já vale.

Na premiação aos fotógrafos da AP, o júri citou as imagens únicas e urgentes das primeiras semanas da invasão da Ucrânia pela Rússia, incluindo a devastação de Mariupol após a saída de outras organizações de notícias, com registros de vítimas do ataque à infraestrutura civil e da resiliência do povo ucraniano que conseguiu fugir.

A lista completa dos vencedores do prêmio Pulitzer de 2023 está aqui.

Corpo de um homem com uniforme militar estendido numa barreira perto de uma aldeia retomada pelos ucranianos na periferia de Kharkiv. Foto de Felipe Dana/AP
Homem foge correndo com alguns itens salvos de um incêndio numa loja após um ataque russo durante a guerra da Ucrânia. Foto de Felipe Dana/AP - 2022
Civis abrigados embaixo de uma ponte destruída, enquanto tentam fugir da Ucrânia. Foto de Emilio Morenatti/AP
Um senhor de 66 anos sai ferido após um ataque russo que atingiu o prédio onde mora, em Kramatorsk, na Ucrânica. Foto de Nariman El-Mofty/AP
Nadiya Trubchaninova, de 70 anos, chora junto ao caixão de seu filho de 48 anos, morto por tropas russas. Foto de Rodrigo Abd/AP
Ucraniana grávida é retirada às pressas após bombardeio russo à maternidade. Levada ao hospital Iryna Kalinina, de 32 anos, morreu logo após ver seu bebê nascer morto. Foto de Evgeniy Maloletka/AP
Foto premiada de Felipe Dana, da Associated Press, feita em 2022, mostra um cão ao lado sua dona, uma ucraniana idosa, morta em casa, junto com a irmã, por forças russas