Guerra sem fim
EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR
A violência não dá tréguas. Na Bahia, somente em setembro foram mais de 60 mortes em confrontos policiais. O estado vive uma disputa entre dez facções de tráfico de drogas. Em São Paulo, as mortes cometidas por PMs em serviço aumentaram 86% de julho a setembro. E, no Rio, a narcomilícia – união entre o tráfico de drogas e a milícia – tem provocado o caos na Zona Oeste com violentos conflitos com a polícia e entre grupos pelo domínio da região.
A política da guerra às drogas – que surge a partir de uma declaração do presidente americano Richard Nixon, em 1971, de que “o uso abusivo de drogas é o inimigo número um dos Estados Unidos” – é criticada por especialistas, por contribuir para a violência policial e para o encarceramento em massa, sem resolver a fundo o problema. Territórios cada vez maiores, especialmente nas comunidades pobres, estão sob domínio de grupos criminosos. As operações de repressão costumam provocar a morte de inocentes, de policiais e de bandidos – sendo que essa mão de obra a serviço do crime é rapidamente substituída.
A socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), disse em entrevista à Agência Brasil que “a guerras às drogas é o álibi perfeito para a polícia exercer seu poder de causar mortes e encarcerar a população jovem e negra nesse país”. Um estudo publicado em junho deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que a guerra às drogas reduz 4,2 meses na expectativa de vida dos brasileiros e representa um custo de R$ 50 bilhões anuais, ou 0,77% do PIB.
É um drama antigo, como se vê nas imagens feitas por fotojornalistas do site Testemunha Ocular. Em 2007, por exemplo, João Wainer fotografou para a Folha de S.Paulo jovens fumando crack na rua dos Protestantes, no centro de São Paulo. Havia um anúncio oficial de que a região seria revitalizada, mas cada vez mais usuários de drogas ocupavam a região, como continua acontecendo. Wainer também fotografou em 2006 para a Folha, como se vê na imagem acima, traficantes armados na Vila do Cruzeiro, no Complexo do Alemão, cenário constante de violência.
Em 2010, Sergio Moraes registrou para a Reuters o momento em que traficantes da Gota atiram em confronto com a polícia. Naqueles dias de novembro, uma onda de violência tomou conta do Rio, com ataques a unidades policiais e queima de veículos, ordenadas diretamente das prisões. Mais de 180 ônibus, caminhões, carros e motos foram incendiados pelos criminosos. As autoridades alegaram que as ações eram uma retaliação dos traficantes contra a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nos morros e favelas – da mesma forma como agora milicianos mandaram queimar 35 ônibus num único dia em protesto contra a morte de um de seus líderes.
Como se vê, a questão das drogas desafia o país há tempos. Mas o padrão se repete. O problema continua a ser enfrentado mais à base da força bruta do que com ações de planejamento, investigação e inteligência.