A punição aos revoltosos
EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR
Nos 60 anos do golpe militar de 1964, o site Testemunha Ocular traz um especial de cinco reportagens sobre o tema.
A primeira matéria da série fala sobre o comício do presidente João Goulart na Central do Brasil, no dia 13 de março, que ajudou a ampliar o desgaste de Jango junto à sociedade civil.
A segunda matéria trata da Revolta dos Marinheiros, de 25 a 27 de março, um dos estopins do golpe.
A terceira matéria fala da anistia concedida por João Goulart aos marinheiros revoltosos, o que desagradou a cúpula das Forças Armadas.
Esta quarta matéria trata da punição aos militares revoltosos.
E, por fim, a quinta matéria trata do golpe de 64 e dos dias seguintes.
Três dias depois da anistia aos marinheiros revoltosos, o presidente João Goulart foi a uma reunião no Automóvel Clube do Rio de Janeiro por ocasião do aniversário de 40 anos da Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar e da posse da nova diretoria da entidade.
Na plateia, havia soldados rebelados das três Forças Armadas. Jango foi aplaudido e fez um discurso inflamado – o que seria seu último discurso como presidente. Na foto do alto desta página, Goulart aparece sentado antes de discursar. Em sua fala, pediu que os praças e suboficiais se unissem cada vez mais. A atitude foi novamente vista como quebra da hierarquia militar e criou ainda mais atrito com a oficialidade das Forças Armadas. Em resposta, almirantes se reuniram no Clube Naval, como se pode ver na folha de contatos com imagens feitas por fotógrafos de “O Jornal”.
Era 30 de março de 1964. No dia seguinte, ocorreria o golpe militar. A partir daí, os militares legalistas, que se opuseram ao golpe, iriam ser perseguidos. Alguns deles seriam presos e enviados ao navio-prisão Raul Soares, atracado em Santos. Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), durantes os 21 anos de ditadura 6.591 militares, de generais a sargentos, foram punidos.
Os praças que participaram da Revolta dos Marinheiros também não escaparam da perseguição. A Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, a AMFNB, foi dissolvida em 23 de novembro. Cerca de 1.200 marinheiros foram expulsos da Marinha. E, após um processo de dois anos, cerca de 300 foram condenados pela Justiça Militar a penas entre dois e 15 anos de reclusão.
Já o principal líder da revolta – o presidente da AMFNB, José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, que na realidade tinha a graduação de marinheiro de primeira classe – acabaria tendo destino diferente. Ele foi julgado pelos crimes de motim e revolta, chegou a ser preso, mas fugiu e se exilou em Cuba. De volta ao Brasil nos anos 1970, acabou se aliando ao governo militar e passou a atuar como agente duplo. Infiltrou-se na luta armada de esquerda e forneceu informações que levaram à prisão, morte e tortura de vários militantes, entre eles sua noiva, Soledad Barrett Viedma, grávida de quatro meses. Ela não resistiu às torturas e morreu na prisão.