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EvandroTeix

Evandro Teixeira

Irajuba, Bahia, 1935
EQUIPE COORDENADORIA DE FOTOGRAFIA DO IMS
1963. Talvez tenha sido esse o ano que definiu mais decisivamente a vida pessoal e profissional do baiano Evandro Teixeira. O ano que ele mesmo classificou como “um ano de arrebatamentos”. Ingressou no Jornal do Brasil, na época, uma verdadeira escola de jornalismo que, entre os anos 1950 e 1990, foi um dos mais ou talvez o mais importante jornal brasileiro; e conheceu a professora de jardim de infância Marly Souza Caldas, com quem é casado desde 1964 e com quem teve as filhas Carina (1964-) e Adryana (1968-).

Após algumas hesitações, pois tinha um certo temor de ingressar no JB, onde trabalhava o dream team do jornalismo nacional, Evandro aceitou o convite do então Editor de fotografia, Dílson Martins, e permaneceu 47 anos trabalhando para a publicação. Tornou-se um dos craques do time, um dos mais celebrados e competentes fotojornalistas do Brasil e do mundo, autor de fotografias icônicas, representativas da história política, do comportamento e do povo brasileiro. Fotografou desde anônimos até artistas como Leila Diniz, Cartola, Pablo Neruda, Rudolf Nureyev; esportistas como Ayrton Senna e Pelé; e visitantes ilustres como a rainha Elizabeth II e a princesa Diana, dentre outras incontáveis personalidades do panorama nacional e internacional.

Evandro Teixeira nasceu em Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, em 25 de dezembro de 1935, filho do fazendeiro Valdomiro Teixeira (? – 1974), o Vavá, e da dona de casa Almerinda Teixeira de Almeida (1914 – 2008), conhecida como Nazinha. Pensou em ser escultor, em ser aviador até ver a máquina fotográfica de seu tio Arcelino, irmão de sua mãe. Ficou encantado e passou a fotografar seus familiares e os animais da roça.

Sua maior influência e ídolo foi o fotógrafo José Medeiros (1921 – 1990), então fotojornalista da revista O Cruzeiro, com quem fez um curso de fotografia por correspondência. Outros fotógrafos que admira e que o influenciaram foram o norte-americano Eugene Smith (1918 – 1978), o francês Henri Cartier-Bresson (1908 – 2004) e o húngaro Robert Capa (1913 – 1954).

Após uma passagem por Salvador, quando estagiou no Diário de Notícias, incentivado por seu amigo Manoel Pinto (? – 2004), o Mapin, foi, em fins de 1957, para o Rio de Janeiro dos Anos Dourados, da Bossa Nova, então a capital cultural do Brasil, o Brasil de JK. Começou, em 1958, a fotografar para o Diário da Noite e também produzia registros para O Jornal, matutino carioca dos Diários Associados. Em 1961, demitiu-se e foi trabalhar na revista O Mundo Ilustrado, cujo redator-chefe era Joel Silveira (1918 – 2007), um dos maiores repórteres da história do jornalismo brasileiro. No ano seguinte, sob o comando de Luis Alberto, ele e Rubem Pereira formaram o trio de jornalistas do Diário de Notícias que faria a cobertura da Copa do Mundo do Chile de 1962. Tanto o Mundo Ilustrado como o Diário de Notícias pertenciam à família Ribeiro Dantas.

Retornamos a 1963. Como já mencionado, finalmente, Evandro foi para o Jornal do Brasil e deste ano até agosto de 2010, quando a edição impressa foi extinta, fez história no jornal, que foi uma referência gráfica e influenciou a vida política, cultural e econômica do país com suas reportagens e colunas. “A maioria das estrelas do fotojornalismo brasileiro estava lá. Era uma honra, um orgulho ser fotógrafo do JB. Nós, fotógrafos, tínhamos até uma página gráfica, no Caderno B, intitulada ‘Onde o Rio é mais carioca’. Você tinha liberdade de sair às ruas, se pautar, criar suas matérias e ensaios fotográficos, e tudo sem flash ou fotômetro”.

Ao longo de seus anos no JB, Evandro trabalhou com fotógrafos como Alberto Ferreira Lima, Alberto Jacob, Almir Veiga, Antônio Teixeira, Ari Gomes, Campanella Neto, Carlos Mesquita, Erno Schneider, Esdras Pereira, Gilson Barreto, Kaoro Higushi, Luiz Morier, Marcelo Régua, Rogério Reis, Ronald Theobald, Rubem Barbosa, Tasso Marcelo e Walter Firmo. O JB foi o primeiro jornal a ter um estúdio fotográfico próprio e a usar as câmeras de médio formato da fabricante sueca Hasselblad, que possibilitavam grandes ampliações com excelente nitidez.

– Foi o ambiente do JB que me transformou no fotógrafo que sou – disse Evandro Teixeira, em setembro de 2010

Já no seu primeiro ano no JB foi o fotógrafo de 15 matérias da série de reportagens “Bloqueio no mar”, que rendeu ao repórter José Gonçalves Fontes (1934 – 2000) o Prêmio Esso de Jornalismo hors concours, em 1964. Evandro viajou pelo Brasil e pelo mundo e produziu imagens icônicas da história do país, dentre elas uma das fotos de capa do dia seguinte ao golpe militar de 1964, a de um soldado no Forte de Copacabana debaixo de chuva. A imagem passava um sentimento de isolamento e melancolia, que se opunha às “comemorações da vitória”. Outros destaques são “Moto e queda ou A queda da moto” (1965), uma imagem que simbolizava a instabilidade do governo militar; “Baionetas e libélulas”, de 1966, que o jornalista Marcos Sá Correa definiu como “o país espetado num fuzil”; diversas imagens do movimento estudantil de 1968; “Casamento em Paraty” (1969); fotos do velório e do enterro de Pablo Neruda, em 1973; uma foto de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Tom Jobim deitados em cima de uma mesa da Churrascaria Carreta, em Ipanema, comemorando os 66 anos do poeta, em 1979; e “O enterro do anjinho”, a imagem de um casal de bicicleta levando o filho de três meses para ser enterrado, em 1992.

Participou da cobertura de diversos eventos esportivos como olimpíadas, copas do mundo e corridas de Fórmula 1; registrou os índios do Xingu e também fotografou eventos culturais como o Festival de Parintins, o Círio de Nazaré e o Rock in Rio. Também foi um importante fotógrafo de moda. Ganhou vários prêmios e lançou livros de fotografias, dentre eles “Fotojornalismo”, o primeiro, em 1983; e “Canudos, 100 anos”, em 1997.

Ao longo de sua extensa carreira, realizou diversas exposições no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, e suas fotografias estão presentes em acervos de instituições como o Museu de Belas Artes de Zurique, o Museu de Arte Moderna La Tertulia, na Colômbia; o Museu de Arte de São Paulo e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, dentre outros.

Com sua personalidade cativante e muito talento, Evandro Teixeira tornou-se um dos mais importantes fotojornalistas do Brasil, mas nunca deixou de ter o espírito do foca. Sua paixão sempre foi fotografar!

Na seção Vida Longa, Evandro relembra numa entrevista em vídeo sua trajetória de quase 70 anos de profissão.

Evandro Teixeira morreu no dia 4 de novembro de 2024, aos 88 anos, por falência múltipla de órgãos, em decorrência de complicações de uma pneumonia.
Tomada do Forte de Copacabana, às 5h da madrugada do dia 1º de abril de 1964: início do golpe militar pelas lentes de Evandro Teixeira