Os 80 anos da FEB
EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR
A tomada do Monte Castelo pelas tropas brasileiras e a rendição da 148º Divisão de Infantaria alemã, em 1945, foram os pontos culminantes de uma história iniciada no dia 9 de agosto de 1943, quando a portaria ministerial número 4744 criou a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, que está completando 80 anos.
A FEB surge um ano depois que o Brasil havia declarado guerra às potências do Eixo, formado pela Alemanha, pela Itália e pelo Japão. A entrada do país na guerra ocorreu por pressão da opinião pública. O governo de Getúlio Vargas flertava com o Terceiro Reich, mas uma onda de indignação tomou conta da população depois do afundamento de sete navios da Marinha Mercante brasileira por submarinos alemães.
O lema da FEB – “A cobra está fumando” – fazia uma referência irônica à provocação dita na época: “É mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que um brasileiro lutar nessa guerra.” Mas a cobra fumou. Foi somente em 2 de julho de 1944 que o primeiro contingente de soldados iria para o front, sob o comando do general Zenóbio da Costa. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, um total de 25.834 brasileiros, conhecidos como pracinhas, participariam do conflito ao lado das forças aliadas. Do total, havia 67 enfermeiras voluntárias integradas ao serviço de saúde da FEB, além de seis outras incluídas na Força Aérea Brasileira. Elas serviram nos hospitais militares, comandados pelos americanos.
Foram sete meses e dezenove dias de combate em solo italiano. Ao fim desse período, a FEB havia aprisionado mais de 20 mil soldados inimigos, além de apreender 80 canhões, 1.500 viaturas e 4 mil cavalos. Morreram em combate 455 soldados do Exército e cinco pilotos da força aérea, homenageados no Monumento dos Pracinhas, no Rio de Janeiro. O número de feridos passou de 1.500. Além disso, 23 foram considerados desaparecidos.
Um dos maiores feitos da campanha dos expedicionários foi a tomada de Monte Castelo, no dia 21 de fevereiro, após doze horas de combate. No dia 29 de abril, viria outra grande vitória, com a rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã. Também se renderam a 90ª Divisão de Tanques e duas brigadas italianas.
Um censo divulgado em abril mostra que dos mais de 25 mil homens enviados para lutar na Itália, apenas 73 estão vivos, dos quais nove no estado do Rio. Conforme mostrou o jornal O Globo, o Censo Permanente da FEB é feito desde 2020 por quatro pesquisadores reunidos na Associação Nacional dos Veteranos da FEB (ANVFEB), entre eles Daniel Mata Roque. O mais novo dos soldados tem 98 anos, e o mais velho 106.
A volta dos pracinhas ao Brasil no fim da guerra rendeu grandes festas e comemorações, tanto na capital federal, o Rio de Janeiro, como na terra natal dos combatentes. Eles foram saudados como heróis que contribuíram para derrotar Hitler e Mussolini e que vingaram a morte dos compatriotas que estavam nos navios torpedeados na costa brasileira. Uma imagem diferente de quando partiram para a Europa, sob dúvidas de que teriam condições de enfrentar as tropas alemãs e italianas.
O grande momento do regresso dos heróis da FEB foi o chamado Desfile da Vitória, em 18 de julho de 1945, no Centro do Rio de Janeiro, por ocasião do desembarque do 1º escalão da Divisão de Infantaria Expedicionária, comandado pelo general Zenóbio da Costa. O presidente Vargas decretou feriado nacional e foi receber no cais o navio que trazia os soldados vitoriosos. O desfile durou a tarde inteira. Uma multidão saudou as tropas, das ruas, janelas dos prédios, marquises e até copas das árvores, num trajeto que foi da Praça Mauá até o Obelisco. Outra comemoração intensa aconteceria no dia 17 de setembro, fazendo justiça à participação dos pracinhas na luta contra o nazifascismo.