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EM FOCO

Imagens do Povo

Complexo da Maré, Rio de Janeiro, RJ
EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR

Em 2004, o fotógrafo João Roberto Ripper recebeu uma proposta para registrar as favelas com um olhar que não fosse o da grande mídia. O convite, feito pelo Observatório de Favelas, veio na direção do que ele já estava buscando.

Com passagens por veículos de comunicação como “Luta Democrática”, “Diário de Notícias”, “Última Hora” e “O Globo”, ele notava uma insatisfação muito grande dos moradores das favelas com tudo que viam publicado na imprensa. “Percebi que as pessoas não se sentiam bem com as informações que saíam. Elas tinham uma crítica muito parecida, e comentavam sobre a chegada de jornalistas na favela, com a certeza de que no dia seguinte iria ‘ter porrada na gente’. E comecei a pensar que a informação, se não trabalhada coletivamente, se não expressasse aquilo que fosse o sentimento de quem vive nos locais, ela ia sair sempre quebrada, com uma ótica do dono da mídia, do empresário, do poder que oprime”, contou ele a Isabella Rosado Nunes no livro “Cidade Partida – 30 Anos Depois”.

Ripper, então, contrapropôs: por que não fazer uma escola que formasse fotógrafos da favela? É aí que Ripper e o fotógrafo Ricardo Funari criam o Imagens do Povo (IP), programa de documentação e pesquisa fotográfica do cotidiano das periferias e de formação e inserção de fotógrafos moradores de favelas no mercado de trabalho. O objetivo central é criar novas representações sobre os espaços populares contribuindo para desconstruir estigmas e preconceitos, e para democratizar a informação. Pouco tempo depois, juntam-se ao IP o jornalista e cientista social Dante Gastaldoni e a jornalista, fotógrafa e cientista social Kita Pedroza.

O projeto se divide em duas grandes frentes. Uma delas é a formação. Com foco no olhar humanístico da profissão, a Escola de Fotografia Popular (EFP) é o carro-chefe do programa. Há também as Oficinas Livres, que têm curta duração e visam contribuir com o aprimoramento técnico e conceitual de quem já está no mercado de trabalho.

O segundo braço do IP é o de Memória e Difusão. Ele conta com o acervo digital do Imagens do Povo, com amplo registros de diferentes espaços populares a partir de seus cotidianos, costumes, culturas, manifestações e festas populares. Existe ainda uma agência, em que os fotógrafos populares atuam como prestadores de serviços em coberturas fotográficas de eventos, editoriais e documentação autoral. Instituições sem fins lucrativos e agências de comunicação estão entre os principais clientes. Também há um espaço expositivo, a Galeria 535, localizado na sede do Observatório de Favelas, na Maré.

Por fim, na condição de centro de preservação e de memória periférica, o IP publica livros. O primeiro deles, uma coletânea de imagens produzidas por ex-alunos da EFP, foi lançado em 2012. Em seguida, em 2014, celebrando os dez anos de existência do programa, veio “Nós: um ensaio do Imagens do Povo”. 

Em 2024, na comemoração dos 20 anos de IP, Ripper celebrou: “Hoje você sente e vê por parte dos fotógrafos da Escola uma demonstração de muita força em apresentar como são, em vez de ter uma visão padronizada. Eles têm uma consciência muito grande sobre isso, e querem também mostrar essa força, essa beleza das pessoas das favelas, além das injustiças que sofrem.”

Ao longo desse tempo, a Escola já formou mais de 200 profissionais. Alguns deles estão representados nesta página dedicada ao Imagens do Povo.

Affonso Dalua: 

Nascido e criado na Nova Holanda, no Complexo da Maré. Artista multilinguagem, ativista LGBTQIAPN+. Técnico em Comunicação Visual pelo Senai e formado em Fotografia pela Escola de Fotografia Popular Imagens do Povo, com diploma de extensão pela UFRJ. É designer no jornal “Maré de Notícias”.

AF Rodrigues:

Nascido e criado na Maré, educador e fotógrafo popular desde 2000, formado pela Escola de Fotografia Popular Imagens do Povo na turma de 2006, é graduado em Geografia pela UFF e Ciências Agrícolas pela UFRRJ.

Aline Oliveira:

Fotógrafa nordestina nascida e criada na cidade de Pitimbu, litoral Sul da Paraíba, hoje mora no Complexo da Maré. Formada pela Escola de Fotografia Popular Imagens do Povo e colaboradora do acervo do IP. Tem se dedicado a fotografar pescadores locais da cidade onde nasceu e as pessoas que encontra ao longo da caminhada.

Elisângela Leite:

Nordestina de Tabira (PE) radicada no Rio de Janeiro, é moradora da Maré, educadora e fotógrafa popular desde 2007, quando se formou pela Escola de Fotografia Popular. É graduada em Pedagogia pela UERJ.

Fernanda Dias:

Fotojornalista carioca, com ampla experiência em veículos de comunicação, tais como Central Globo de Produção, e os jornais “O Globo”, “Extra” e “O Dia”. Há dez anos iniciou o projeto Raízes do Vale, sobre cultura popular, religiosidade e agricultura familiar na região do Vale do Café, interior do Estado do Rio.

João Teodoro:

Nascido em Duque de Caxias (RJ) e formado em 2022 pela Escola de Fotografia Popular. Sua obra é profundamente enraizada na experiência da diáspora negra e na complexa relação dos corpos negros na sociedade brasileira.

Léo Lima:

Cria do Jacarezinho, fotógrafo e educador formado pela Escola de Fotógrafos Populares (2009). Idealizador dos coletivos Favela em Foco e Cafuné na Laje, atualmente ministra oficinas de fotografia e direitos humanos no programa Cultura de Direitos em Maricá (RJ).

Monara Barreto:

Fotógrafa formada pela turma da Escola de Fotografia Popular em 2009. Bibliotecária, Mestre em Ciência da Informação pela UFRJ. Atua como gestora do acervo do Imagens do Povo.

 Nayane Silva:

Nascida na Cidade de Deus, fotógrafa popular, educadora, mediadora e curadora. Tem como principal tema fotográfico o cotidiano no intuito de preservar a memória e discutir o direito à cidade.

Patrick Marinho:

Fotógrafo independente nascido no Complexo da Maré em 1998. Sua obra é sobre o cotidiano dos moradores locais, com foco em trabalhadores informais. Formado pela Escola de Cinema Olhares da Maré (Ecom) e pela Academia Internacional de Cinema (AIC), participou de residências como a do Instituto Moreira Salles (2021) e da Elã (2023), produzindo imagens sobre direitos humanos e justiça social.

Ratão Diniz: 

Fotógrafo formado em 2004 pela Escola de Fotografia Popular. Ao completar dez anos de carreira, Ratão lançou seu primeiro livro, “Em Foto”, e, de lá para cá, tem se consolidado como um importante fotodocumentarista, com um trabalho que transita entre os grafiteiros, as favelas e a cultura popular.

veri-vg: 

Fotógrafo popular do Complexo da Maré, apresenta narrativas da população LGBTQIAPN+, do meio ambiente, das favelas e periferias na perspectiva de construção cidadã, desconstrução da LGBT+fobia, memória e acervo de imagens.

Vitória Corrêia: 

Moradora do conjunto de favelas da Maré, é fotógrafa formada pela Escola de Fotografia Popular Imagens do Povo. Além de indexadora do Imagens do Povo, vem se afirmando no campo de social media com experiência no Observatório de Favelas, na Redes da Maré e no Voz das Comunidades.

Apresentação da artista drag queen Preta Quen B Rull, no evento Noite das Estrelas, Nova Holanda, Complexo da Maré. 2023. Foto de Patrick Marinho.