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fotógrafos IMS

WalterFirmo

Walter Firmo

Rio de Janeiro, RJ, 1937
EQUIPE COORDENADORIA DE FOTOGRAFIA DO IMS
Carioca criado “sob as estrelas suburbanas na altura do Méier”, Walter Firmo produziu sua primeira fotografia quando tinha uns 15 anos. Registrou uma paisagem na estrada Presidente Dutra, entre o Rio e São Paulo, na altura de Pindamonhangaba, em uma parada do ônibus da Cometa – estava com a mãe indo para Santos, onde seu pai chegaria: “atravessei a estrada divisando uma paisagem, nuvens, um lago e, enfim, fiz essa foto. É uma foto de que eu me lembro, já como amador, me lançando no rumo da fotografia, queria ser fotógrafo”.

Seu fotógrafo predileto é o húngaro André Kertész (1894 – 1985) que, para Firmo, se enquadra nas três categorias que criou para classificar a natureza dos fotógrafos – ladrão, engenheiro e invisível. Ladrão por se apropriar de uma realidade momentânea em termos de movimento; engenheiro por atuar um pouco como um diretor de cinema na montagem da foto; e, finalmente, como invisível, trabalhando a forma e o conteúdo sem ser percebido.

Retratou ao longo de sua trajetória as festas populares do Brasil, principalmente, o carnaval, e também ícones da música popular brasileira. Credita seu livre trânsito no mundo do samba ao jornalista Sérgio Cabral (1937 -) e ao compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho (1935 -). Em 1957, conheceu Cabral no Exército, onde serviram, e, em 1959, já como fotógrafo do jornal Última Hora, reencontrou o amigo, então repórter do Diário da Noite, que o levou para o ambiente do samba carioca.

Uma das fotografias icônicas de Firmo é justamente de Pixinguinha. Em 1967, foi com o então “foca” Muniz Sodré (1942 – ) fazer uma matéria com o músico em sua casa em Ramos, subúrbio do Rio de Janeiro. Quando a entrevista foi concluída, Firmo, na busca de uma visualização poética do compositor, pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala e a colocou no quintal, ao lado de uma mangueira e perto de flores e folhas. Propôs a Pixinguinha que se sentasse nela com o saxofone no colo, no que foi prontamente atendido. Fez 36 fotos. Uma delas eternizou o grande maestro. A matéria “Na música popular quem samba fica” foi publicada na Manchete, de 4 de novembro de 1967.

Firmo classifica seu trabalho como “amoroso”, e sua causa humanística fotográfica é estar com o povo, com as pessoas mais simples, mais pobres. Procura exprimir em suas fotografias a fidalguia, a elegância que vem justamente da singeleza, da simplicidade. Como fotojornalista, registrou políticos, jogos de futebol, desfiles de moda, a construção de Brasília, enfim, todos os assuntos que podem fazer parte da pauta do cotidiano de um jornal. Porém não se considera um repórter fotográfico na sua essencialidade e sim um cronista fotográfico, um “poeta do belo”.

A questão do negro sempre esteve presente em sua obra “como uma representação de uma sociedade que existe, não é uma sociedade invisível. E, posto assim, eu sou um delegado em representá-los na questão de sua cidadania”.

Em 1955, Firmo começou sua carreira no fotojornalismo. Já tinha uma máquina Rolleiflex e feito um curso na Associação Brasileira de Arte Fotográfica. Foi ao jornal Última Hora, onde pediu ao chefe do Departamento de Fotografia, Roberto Maia, uma oportunidade, afirmando que se tornaria um profissional em 15 dias. Maia chamou o então renomado fotógrafo Demócrito Bezerra e contou a ele sobre a “promessa” de Firmo… se entreolharam e Maia gritou para Firmo: “Sobe”.

Em 1960, começou a trabalhar como fotógrafo do Jornal do Brasil, na cobertura da visita do presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower (1890 – 1969), ao Brasil. Foi no Caderno B, do JB, que publicou a série de reportagens “100 dias na Amazônia de ninguém”, com a qual conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo de 1963.

Saiu do Jornal do Brasil, em 1965, e passou a integrar a primeira equipe da revista Realidade. Ainda em 1966, foi trabalhar na revista Manchete, onde ficou até 1971, ano em que começou a trabalhar para a indústria fonográfica e a se dedicar a uma pesquisa fotográfica sobre as festas do folclore brasileiro.

Durante sua passagem nos jornais Última Hora e Jornal do Brasil, Firmo só produzia fotografias em preto e branco. Foi vendo os ensaios fotográficos sobre regiões do Brasil realizados pelo fotógrafo norte-americano David Drew Zingg (1923 – 2000) para a revista Manchete que Firmo “descobriu” a cor, da qual se tornou um virtuoso. Para Firmo, metaforicamente, as fotos coloridas “reverberam como bandas de músicas” enquanto que as em preto e branco traduzem “um estado silencioso de ver as coisas”.

Em 1967, foi correspondente durante seis meses da Editora Bloch em Nova York. Conheceu o bairro do Harlem, descobriu o jazz e decidiu ajudar, com sua fotografia, a formar uma consciência negra no Brasil.

Fundou a agência Câmera 3, em 1973, em sociedade com Claus Meyer (1944 – 1996) e Sebastião Barbosa (1943 – ), também oriundos da Manchete. Entre esse ano e 1982, foi premiado sete vezes no Concurso Internacional de Fotografia da Nikon.

Trabalhou entre as décadas de 70 e 80, nas revistas Veja Rio, Tênis Sport e IstoÉ, além de ter atuado como freelancer. Com os fotógrafos Cafi (1950 – 2019), Pedro de Moraes (1942 -) e Miguel Rio Branco (1946 -) lançou, em 1982, uma edição de 24 cartões postais em preto e branco sob o título “Os Brasileiros” com prefácio do antropólogo Darcy Ribeiro (1922 – 1997).

Em 1983, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou a retrospectiva de 25 anos de carreira de Walter Firmo, “Ensaio no tempo”. Foram exibidas 200 fotografias em cores e em preto e branco que ocuparam 800 metros quadrados no terceiro andar. A única mostra de fotografia que ocupou todo esse espaço no museu anteriormente foi a do francês Henri Cartier-Bresson (1908 – 2004).

Ganhou, em 1985, o Prêmio Golfinho de Ouro do governo do Estado do Rio de Janeiro na categoria Fotografia pela “sensibilidade de suas fotografias, em especial, a poética do povo brasileiro e sua realidade”. Um ano depois, foi nomeado diretor do Instituto Nacional de Fotografia, na Funarte, cargo que exerceu até 1991.

Na década de 90, participou de várias exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, além de ter lecionado fotografia em diversas instituições. Foi também o curador de quatro edições do Salão Finep de Fotojornalismo. Foi reintegrado à Funarte, em 1994, onde passou a trabalhar na Área de Fotografia, pela qual se aposentou em 2007.

Em 1999, ganhou a Bolsa de Artes do Banco Icatu e foi viver durante seis meses em Paris na Cité Internacionale des Arts, onde assinou a exposição individual “Paris gris – un oeil, deux regards” e ministrou o workshop “Photographie à Paris”.

No ano seguinte, foi designado curador do Módulo de Fotografia Contemporânea “Negro de Corpo e Alma”, na Exposição do Redescobrimento Brasil + 500 anos, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Desde então continua participando de diversas exposições.

Ao longo de sua carreira, publicou vários livros como “Antologia Fotográfica” (1989), “Amazônia luz e reflexão” (1995), “Nas trilhas do Rosa” (1996), “Paris: parada sobre imagens” (2001), “Rio de Janeiro, cores e sentimentos” (2002), “Firmo Fotografias” (2005), “Coleção álbum de retratos – imagem / Walter Firmo”, por Cora Rónai (2007), e “Brasil: Imagens da Terra e do Povo” (2009). Desde 2018 o Instituto Moreira Salles abriga, em regime de comodato, aproximadamente 145 mil fotos feitas por ele.

Em abril de 2022, realizou uma exposição e lançamento do catálogo “Walter Firmo. No verbo do silêncio a síntese do grito”, no IMS São Paulo, em comemoração aos seus setenta anos de prática fotográfica ininterrupta.
Pixinguinha. Rio de Janeiro, RJ, 1967