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Foto Histórica

O Rei da Voz emudece

EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR

Chora Estácio, Salgueiro e Mangueira,

Todo o Brasil emudeceu,

Chora o mundo inteiro,

O Chico Viola morreu!

27 de setembro de 1952, 17h23 ou 18h30, há duas versões. Francisco Alves vem voltando de São Paulo para o Rio dirigindo o seu Buick preto pela Via Dutra, com seu amigo Haroldo Alves. Apresentara-se na véspera no auditório da Rádio Nacional em São Paulo, no Brás, e precisava estar no Rio no dia seguinte para uma apresentação também na Nacional, na Praça Mauá. Tinha acabado de passar a ponte sobre o Rio Una, que divide Taubaté de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba paulista. Uma obra no caminho ou – também aqui há dois relatos – um carro saído repentinamente de uma via secundária, obrigou o motorista de um caminhão que vinha na direção contrária à manobra rápida que provocou o choque frontal com o Buick do cantor. Haroldo Alves foi cuspido fora do automóvel e sobreviveu. Chico teve morte instantânea, seja pelo choque ou pelo incêndio que se seguiu à colisão que lhe carbonizou o corpo. A brutalidade da notícia deixou o país catatônico.

Francisco Alves tinha 54 anos. Era um dos maiores ídolos nacionais, o “Rei da Voz”, cantor que lotava auditórios no país inteiro e atraía multidões de compradores de seus discos.

Filho de um casal de portugueses, Francisco de Moraes Alves nasceu dia 19 de agosto de 1898 na Rua do Acre, região portuária do centro do Rio de Janeiro, onde o pai tinha um bar. Começou a cantar aos 20 anos, num circo que teve que encerrar suas atividades com a eclosão da pandemia da gripe espanhola – que lhe matou um irmão e o pai. Na adolescência, fugira da escola, fora engraxate e trabalhara numa fábrica de chapéus, até se tornar chofer de táxi, trabalho em que se manteve um tempo, mesmo depois de já ter gravado discos.

Suas primeiras gravações, em 1919, foram O pé de anjo e Fala, meu louro, de José Barbosa da Silva, “Sinhô”, o rei do samba.

Nos anos 1920, Chico, segundo pesquisa de Flora Thomson-DeVeaux, grava centenas de músicas: nada menos de 143 em 1928 e mais 153 no ano seguinte. Com a voz intimista de Mário Reis compôs uma dupla de enorme sucesso. Como parceiro – e até autor – assinou sambas compostos por Ismael Silva e Cartola, grandes compositores até então à margem do mercado fonográfico.

A demanda por registros com sua voz era tal que ele a certa altura passou a frequentar os estúdios de duas gravadoras, a Parlophon e a Odeon, aparecendo nos selos de uma seu nome e no da outra seu apelido, Chico Viola.

Alguns relatos taxam Francisco Alves de avarento. Mas também era generoso. Em depoimento para o escritor e pesquisador Zuza Homem de Melo, Orlando Silva relata que logo que conheceu Francisco Alves foi convidado por ele a participar de seu programa de rádio. Orlando viria a dividir com Chico multidões de fãs.

O corpo do cantor foi trasladado de Pindamonhangaba para o Rio, onde foi velado no saguão do palácio Pedro Ernesto, a Câmara Municipal carioca. Milhares de pessoas fizeram o dia todo uma imensa fila para se despedir do ídolo. No dia seguinte, o cortejo fúnebre partiu da Cinelândia para o cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade, acompanhado por uma multidão cantando durante o trajeto vários de seus sucessos, como Adeus, cinco letras que choram.

Naquele mesmo ano, Linda Batista e o trio Madrigal gravaram O Chico Viola morreu, de Wilson Batista e Antônio Nássara. No ano seguinte se inaugurou um monumento em sua homenagem no Largo da Concórdia, em São Paulo.

No dia 27 de setembro de 1952, Francisco Alves morreu num acidente de automóvel na Via Dutra. O cortejo fúnebre até o cemitério São João Batista, em Botafogo, foi acompanhado por uma multidão que cantava seus sucessos
Francisco Alves, o Rei da Voz, era um dos maiores ídolos nacionais, lotando auditórios no país inteiro
O corpo de Francisco Alves é velado saguão do palácio Pedro Ernesto, a Câmara Municipal carioca
O Buick de Francisco Alves ficou inteiramente destruído após ser atingido de frente por um caminhão
Fãs acompanham o enterro de Francisco Alves no cemitério São João Batista, em Botafogo
O IMS envidou todos os esforços para identificar e localizar os autores das obras fotográficas publicadas neste site, e agradece toda informação suplementar a respeito.