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Uma câmera contra a ditadura

EQUIPE TESTEMUNHA OCULAR

Evandro Teixeira viveu dias de tensão e de medo quando esteve no Chile para registrar o golpe militar que depôs o presidente Salvador Allende e alçou ao poder o general Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973. Agora, 50 anos depois, ele voltou a Santiago para inaugurar sua exposição “Fotojornalismo e ditadura” com outro estado de espírito. Em seu breve discurso, ele saudou o Chile “plenamente democrático” e, no fim, levantou sua câmera e disse: “Esta foi a minha arma contra a ditadura no Brasil e no Chile!” Foi aplaudido de pé pelo público presente à cerimônia.

A mostra foi aberta no dia 10 no Museu da Memória e dos Direitos Humanos (MMDH) e faz parte da programação oficial referente aos 50 anos do golpe. Ela apresenta 40 fotos selecionadas entre as 160 imagens em cartaz no CCBB do Rio, na exposição organizada pelo Instituto Moreira Salles, com curadoria de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS. Em 1973, aos 37 anos, Evandro esteve no Chile a serviço do Jornal do Brasil.

Na abertura da exposição, que é resultado de uma parceria entre o Itamaraty, o Ministério da Cultura e o IMS, estiveram representando o governo brasileiro os ministros da Justiça, Flávio Dino, e dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida. Na ocasião, Dino anunciou a criação do Museu da Memória e dos Direitos Humanos no Brasil.

Estiveram presentes mais de cem brasileiros do coletivo Viva Chile, composto por ex-exilados da ditadura de Pinochet. Um dos presentes era o professor de história Vladimir Salamanca. Na época com 15 anos, ele ficou preso no Estádio Nacional, onde foi torturado. Ele e seu irmão aparecem numa foto que Evandro fez com exclusividade no porão do Estádio. O irmão de Vladimir está até hoje desaparecido.

Dois dias antes da inauguração, Evandro reuniu-se no Palácio La Moneda com o presidente chileno, Gabriel Boric. Na ocasião, ele autografou o catálogo da exposição, em que estão registradas algumas das cenas mais marcantes do período, como o bombardeio do Palácio La Moneda e a prisão de opositores do governo no Estádio Nacional, que virou um centro de detenção. Também documentou o poeta Pablo Neruda logo após sua morte e seu enterro, que virou uma grande manifestação de repúdio ao golpe.

Evandro Teixeira acompanhou o enterro do poeta Pablo Neruda, que morreu dias após o golpe militar. O cortejo com o caixão transformou-se numa manifestação contra a ditadura
Soldados vigiam as ruas de Santiago, após o golpe que alçou ao poder o ditador Augusto Pinochet
Evandro Teixeira na sala do Palácio La Moneda que reproduz o gabinete do presidente Salvador Allende, retratado na pintura. Allende foi deposto pelo golpe militar em 11 de setembro de 1973
A foto feita por Evandro Teixeira em 1973 mostra um estudante detido no Estádio Nacional, tendo seu cabelo cortado. O Estádio virou um centro de detenção
Imagens da mostra de Evandro no Museu da Memória e dos Direitos Humanos. Numa delas, ele aparece com o brasileiro Vladimir Salamanca, torturado na ditadura
Evandro Teixeira autografa o livro-catálogo da exposição que traz fotos que fez durante o golpe militar do Chile
Evandro Teixeira autografa o catálogo da exposição para o presidente do Chile, Gabriel Boric, à direita. No centro, o embaixador do Brasil, Paulo Pacheco, e, à esquerda, o secretário da presidência do Chile, Álvaro Elizalde
Evandro Teixeira ao lado de Sergio Burgi (à direita) e do secretário geral da presidência do Chile, Álvaro Elizalde, e do embaixador do Brasil, Paulo Pacheco, à esquerda
Evandro Teixeira caminha ao redor do Palácio La Moneda acompanhado do secretário geral da presidência do Chile, Álvaro Elizalde. Há 50 anos, o palácio foi bombardeado