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Aquele abraço, papa Francisco

MAURO VENTURA

Ao longo de seus 12 anos de papado, o papa Francisco, que morreu no dia 21 de abril, aos 88 anos, visitou mais de 65 países nos cinco continentes – mas não voltou a seu país, a Argentina, depois de assumir o comando da Igreja Católica. A primeira viagem, em 2013, apenas quatro meses depois de ser eleito, foi justamente ao Brasil. Ele foi recepcionado por cerca de 200 mil fiéis, debaixo de chuva, em Aparecida (SP), e esteve no Rio para a Jornada Mundial da Juventude.

No Rio, o papa circulou a bordo do Papamóvel. O ponto alto da viagem de Francisco, que visitou uma favela no Complexo de Manguinhos e inaugurou um centro de atendimento para dependentes químicos na Tijuca, ocorreu na Praia de Copacabana, que foi palco de eventos importantes, como a encenação da Via Sacra e a Festa da Acolhida. No fim, a Missa de Envio reuniu cerca de 3,7 milhões de pessoas, recorde de público no local até hoje. Desde a noite anterior os peregrinos se reuniram em vigília na areia e nas calçadas do bairro.

Os fotógrafos do site Testemunha Ocular registraram o papa em diversas ocasiões. Sérgio Moraes, Custodio Coimbra e Ueslei Marcelino fizeram imagens do primeiro papa sul-americano durante essa única visita ao Brasil em 2013. Ana Carolina Fernandes fez um foto durante a visita do papa a Cuba, em 2015. E Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial da presidência, fez registros do papa em várias ocasiões, como nos encontros de Lula com Francisco. Em 2020, Lula viajou até a Santa Sé para abordar temas como fome, desigualdade social e intolerância na conversa com o pontífice. Depois, já novamente na presidência, Lula se reuniu com o papa em junho de 2023, também no Vaticano, quando discutiu com o pontífice temas como fome, meio ambiente, Mercosul e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Em junho de 2024, Lula e Francisco se encontraram novamente durante a cúpula do G7, na Itália.

Ricardo Stuckert fala sobre suas lembranças:

“Em 2020, vivi uma experiência extraordinária que ficará marcada para sempre em minha memória: o momento em que o papa Francisco abençoou minha máquina fotográfica. A emoção que senti naquele instante é difícil de descrever. Sou eternamente grato por ter vivido esse momento único e por ter a bênção de carregar essa lembrança no coração.

O gesto de sua bênção foi mais do que um ato simbólico; foi uma confirmação de que a fotografia pode ser uma extensão da nossa fé e um instrumento fundamental no registro da nossa história.

Aquela foi uma das ocasiões em que vi o papa Francisco. Na primeira vez, estava na Praça São Pedro com a minha família para vê-lo passar no papamóvel. Minha filha estava com quatro anos na época, e o papa a avistou de longe. Ele parou na nossa frente, pegou-a no colo e deu um beijo em sua testa. Foi um dos momentos mais emocionantes e a primeira vez que o fotografei.

Tive a honra de fotografá-lo em várias ocasiões. Cada registro refletiu sua profunda mensagem de amor, humildade e amor ao próximo.”

O papa abençoa a máquina fotográfica de Ricardo Stuckert em 2020, durante visita de Lula ao Vaticano.

Ueslei Marcelino, autor da foto que abre esta página, relembra a Jornada Mundial da Juventude, em 2013:

“Demora um pouco para um fotojornalista ter a verdadeira maturidade de entender os fatos e eventos que cobre. Em 2013, na visita do papa, eu certamente não tinha ideia que estava registrando uma parte da história da humanidade. Hoje revendo as fotos e revivendo o momento, me emocionei e me dei conta mais um pouco sobre a importância do fotojornalismo como documentação histórica.”

O papa Francisco durante a visita ao Rio em 2013. Foto de Ueslei Marcelino/Reuters.

Ana Carolina Fernandes conta os bastidores de sua imagem, tirada em Cuba:

“Em setembro de 2015, eu estava em Havana e soube que o papa Francisco estaria na Plaza de la Revolución no dia seguinte. Eu me preparei bem cedo para estar lá. Não exatamente para fotografar o pontífice, mas sim o comportamento do povo cubano em relação ao homem que vinha articulando toda uma reaproximação dos Estados Unidos com Cuba. Inclusive foi ele o grande responsável pela reabertura da embaixada americana no país depois de 54 anos, em julho do mesmo ano. Foi lindo e um momento de grande expectativa pelo fim do cruel e vergonhoso embargo americano imposto ao país. Descansa em paz, Francisco. Você foi o melhor papa da história, o ser humano supremo representante da Igreja Católica que abraçou e falou em nome e em defesa de todos os excluídos do mundo.”

O papa Francisco na Plaza de la Revolución, em Havana, capital de Cuba, em 2015. Foto de Ana Carolina Fernandes/Acervo pessoal.

 

Abaixo, outras imagens feitas pelos fotojornalistas do site Testemunha Ocular:

O papa chega para a missa final na Praia de Copacabana, no dia 28 de julho de 2013. Foto de Sérgio Moraes/Reuters.
Milhões de católicos fazem vigília durante a noite de 27 de julho de 2013 em Copacabana na véspera da missa celebrada pelo papa Francisco. Foto de Sérgio Moraes/Reuters.
O papa Francisco durante a visita ao Rio em 2013. Foto de Ueslei Marcelino/Reuters.
Com o papa na cabeça. Fiel durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio, em 2013. O papa Francisco durante a visita ao Rio em 2013. Foto de Ueslei Marcelino/Reuters.
Cerca de 3,7 milhões de fieis lotaram a areia e a calçada de Copacabana durante a missa celebrada pelo papa Francisco em 2013. Foto de Custodio Coimbra/O Globo.
Fieis aguardam o papa na Praia de Copacabana em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude. Foto de Custodio Coimbra/O Globo.
Lula e o papa Francisco: o presidente e o sumo pontífice se encontraram em várias ocasiões, quando falaram de temas como combate à fome e à desigualdade social, meio ambiente e guerra na Ucrânia. Foto de Ricardo Stuckert.
O papa Francisco durante a visita ao Rio em 2013. Foto de Ueslei Marcelino/Reuters.